Resumo: Artigo 36326
A atuação do(a) engenheiro(a) no desenvolvimento de Tecnologias Sociais (12, 63, 100, 108, 112, 116)
Bruna Vasconcellos, Universidade Estadual de Campinas, BrazilLais Fraga, Ricardo Silveira, Paulo Machado, Rachel Previato, UNICAMP, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 205 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 30 - Chair: Márcia Moraes
Abstract.
A partir da experiência do Grupo de Estudos e Pesquisa em Economia Solidária de Produção e Tecnologia (GEPES de P&T) da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UNICAMP (ITCP/UNICAMP), o artigo tem como objetivo discutir a atuação do(a) engenheiro(a) em empreendimentos econômicos solidários (EES). A formação dos(as) engenheiros(as) é baseada no mito da neutralidade da ciência e da tecnologia (C&T) que faz com que estes, mesmo quando atuam para uma transformação social, limitam-se à aplicação de tecnologias convencionais que, na maioria das vezes, não foram desenvolvidas levando em conta os valores e interesses dos empreendimentos econômicos solidários. A partir do campo dos Estudos em Ciencia, Tecnologia e Sociedade (CTS) e do marco-analítico conceitual da Tecnologia Social (TS) desenvolvido por Renato Dagnino, mostraremos aqui a necessidade de repensar a busca de soluções tecnológicas para esses empreendimentos: a necessidade de uma nova tecnologia para uma transformação social. Para essa nova tecnologia uma reformulação da atuação do(a) engenheiro(a) tambem se faz necessária. Essa nova maneira de atuar, chamamos de Engenheiro(a) Educador(a). Este artigo é um resultado de mais de três anos de reflexão e atuação GEPES de P&T. Esse grupo temático (assim como outros seis existentes na incubadora) tem como função confrontar a prática da incubação com o estudo teórico sobre um tema específico, no caso, a produção e a tecnologia nos empreendimentos econômicos solidários. Baseado nos estudos do campo CTS que busca estudar as relações entre ciência, tecnologia e sociedade, ou seja, entender a ciência e a tecnologia a partir de seu contexto social, em relação tanto aos seus condicionantes sociais quanto às suas conseqüências sociais e ambientais, e que, em todas suas vertentes, reconhece como objetivo desmistificar a visão neutra da tecnociência, o GEPES fez uma reflexão sobre a prática de incubação dos(as) engenheiros(as), o que resultou na necessidade de questionar a atuação dos(as) engenheiros(as) nos empreendimentos econômicos solidários. Essa visão, de que a ciência e a tecnologia carregam os valores e interesses do contexto no qual foram desenvolvidas, tem conseqüências que afetam a atuação do(a) engenheiro(a). E parece-nos lógico que os interesses de uma grande empresa privada sejam diferente dos interesses dos empreendimentos econômicos solidários. A partir dessas considerações, a pergunta que trazemos é: o(a) engenheiro(a), ao atuar com empreendimentos econômicos solidários, deve atuar da mesma maneira que atua em uma empresa capitalista? A visão baseada no entendimento de que o conhecimento produzido poderia ser usado para qualquer finalidade (e, conseqüentemente, para qualquer projeto político) é claramente contrária a nossa prática de incubação. Percebemos que a C&T disponível não é adequada para os empreendimentos incubados. Por outro lado, o marco-analítico conceitual da Tecnologia Social, adotado pelo GEPES, propõe uma maneira diferente de fazer ciência, que quando entendida como não neutra e controlada pelo homem e comprometida com a inclusao social, não pode ser desenvolvida dentro dos laboratórios da universidade, mas sim de forma participativa, de maneira a incluir valores e interesses dos usuários diretos daquela tecnologia social. O foco nos processos participativos é o ponto chave para romper barreiras tecnocráticas e desconstruir o modelo de atuação hierárquico do(a) engenheiro(a), detentor do conhecimento. Sendo assim, é da interação entre esse marco-analítico conceitual da TS, da educação popular e da prática da ITCP/UNICAMP que surge a idéia do(a) Engenheiro(a) Educador(a). O papel do educador não é o de levar o conhecimento de ordem técnica ao educando, mas sim o de proporcionar, por meio de uma relação de diálogo entre educador e educando e educando educador, a organização de um pensamento correto em ambos na interação de seus saberes. Por isso, para o desenvolvimento de um empreendimento econômico solidário no qual as soluções tecnológicas devem ser construídas de forma participativa, levando em consideração suas realidades e visando uma transformação social, se faz necessária a atuação de um(a) engenheiro(a) com um perfil diferenciado, o(a) Engenheiro(a) Educador(a).